Tempos juninos: Olha pro céu meu amor

No Brasil, as festas joaninas foram denominadas da juninas, em referência a São João Batista.  A celebração a terra e a fertilidade, com o advento do período de chuvas, cresceu no Nordeste a tradição do São João.  Um mês dedicado aos três santos: dia 13 Santo Antônio, dia 24 São João e dia 29 a São Pedro. 

O tempo, as transformações socioculturais, fizeram dessa festa tão nordestina, tão interiorana, amigo velho não diria perder as 'raízes", eu diria, para usar o jargão das quadrilhas, a tradição foi aos poucos estilizada. Os Arraiais, hoje escassos, eram erguidos em toda a cidade, ruas se enfeitavam, o colorido de balões e bandeirinhas dava o tom da tradição, aquele cheiro do interior, da fazenda , do sitio, invade a cidade.

Como aponta a professora Luciana Chianca: Nas ruas, as animações recriavam o ambiente dos "bosques" e "sítios", através de uma decoração bem características. Um artigo d'A República de 26 de junho de 1900 conta que "em todas as ruas apareceram as tradicionais fogueiras, os bosques e outros motivos de decoração." (CHIANCA, Luciana. A festa do interior: São João, migração e nostalgia em Natal no século XX. Natal: EDUFRN, 2006, p.33).

Barracas, balões, bandeirinhas coloridas, enfim, ruas vestidas de São João, este era o clima da cidade em noites juninas, infelizmente, amigo velho, os tempos são outros e as ruas, raras exceções, deixaram de ter seus arraiais.

Os tempos são outros, na Natal do passado, o mês de junho, era repleto de festejos, fogueiras, quadrilhas, tradicionais - as estilizadas são releituras recentes -, podia-se vivenciar o São João em todos os cantos da cidade.  As famílias reuniam-se nas calçadas, acendia-se fogueiras, os festejos era um momento de confraternização.

Octavio Pinto, em suas reminiscências, descreve as noites de São João da cidade do início do século XX: Na véspera papai já havia comprado o sortimento de fogos: traques de chumbo e de velha (estouro), pistolas, busca-pés, rojões, estrelinhas [...] balões que subiam para o céu [...] E começava a se soltar os fogos [...] Depois todos que estavam na calçada e no jardim iam para a sala participar da ceia de canjica, bolo de milho, cuscus, pamonha, licor de genipapo, doce de mangaba, etc. ( PINTO, Octavio. Reminiscências. Rio de Janeiro:Edição do autor, 1979, p.48).

A urbe, cresceu para além das Quintas e com ela novos desafios, agora como no passado o mês dos festejos juninos continua a provocar na cidade um reencontro com as tradições, como ficar indiferente a ouvir a sanfona e a voz marcante de Luiz Gonzaga e não olhar para o céu? “Havia balões no ar/ Xóte, baião no salão/ E no terreiro/ O teu olhar, que incendiou/ Meu coração!” (Olha pro céu - (Luiz Gonzaga).